Por Pedro Machado
pedro@noticenter.com.br
O naufrágio do transatlântico Costa
Concordia, há duas semanas na costa da Itália, tomou conta do noticiário
internacional não apenas pela dimensão da tragédia em si – que matou,
até agora, pelo menos 15 pessoas –, mas principalmente pela postura do
comandante Francesco Schettino. Ao, literalmente, abandonar o barco,
Schettino deu um belo exemplo de como um líder não deve agir. Como
autoridade máxima do navio, cabia a ele comandar as operações de resgate
das 4,2 mil pessoas a bordo. “Ao escolher se salvar em primeiro lugar,
Schettino não só demonstrou despreparo para enfrentar uma situação
adversa, um dos piores pecados de alguém que ocupa uma função de
liderança, como fez pior: quebrou a confiança daqueles que estavam a
bordo”, comenta Flávia Kurth, diretora-executiva da Véli Soluções em RH.
O caso reflete uma realidade que tem
assustado o mundo corporativo, e que não é de hoje: bons líderes estão
cada vez mais escassos. A pesquisa “Sonhos e pesadelos dos profissionais
de RH”, realizada recentemente pela Associação Brasileira de Recursos
Humanos (ABRH), mostra que quase 64% dos profissionais consultados
acreditam que as empresas não têm líderes suficientes para suprir as
necessidades dos próximos três anos. Um dado preocupante, que pode
limitar o crescimento das organizações em um bom momento de expansão
econômica do país.
Para Monica Schmaida,
consultora da Véli, a postura de pessoas que ocupam cargos de liderança
tem um impacto decisivo na evolução de uma empresa. São eles que definem
a estrátegia que a empresa ou setor irá seguir para alcançar os
resultados estabelecidos. Alguns líderes como Steve Jobs (Apple), Bill
Gates (Microsoft), Silvio Santos (SBT) e Mark Zuckerberg (Facebook) são
conhecidos pelas escolhas e atitudes demonstradas em momentos
singulares. No entanto, a especialista lembra que líderes são pessoas
admiradas e que inspiram os profissionais que trabalham para eles,
independentemente de serem famosos ou não.
Em entrevista concedida ao Noticenter,
Flávia e Monica explicam por que os líderes são agentes de sucesso (ou
de naufrágio!) das empresas e apontam as principais características que
profissionais em cargos de comando e chefia precisam ter para conduzir
os negócios – e, acima de tudo, as pessoas.
ADMIRAÇÃO EM PRIMEIRO LUGAR
O líder precisa ser admirado pelos
profissionais que comanda, e admiração é algo que se conquista. “Grandes
líderes da história e dos negócios conseguiram fazer revoluções porque
conquistaram a admiração do seu povo. Despertaram seus sonhos e a
confiança de que eles seriam possíveis de realizar”, comenta Monica.
Para desenvolver esse carisma, não é
necessário ocupar cargo de chefia, mas sim ter atitude. Essa admiração
não deve estar relacionada apenas à sua superioridade hierárquica (é bom
lembrar que nem todo líder é, necessariamente, um chefe), mas
principalmente pelo relacionamento com seu público. “Hoje em dia, os
profissionais se sentem mais seguros para questionar atitudes e decisões
do líder”, avalia Flávia. “Quando o líder não é admirado por sua
equipe, raramente os negócios vão fluir de maneira positiva”, completa.
“É como os jogadores de um time de futebol que fazem corpo mole em campo
para derrubar um treinador porque não o respeitam ou não acreditam em
sua filosofia de trabalho”, compara Monica.
Dar voz para a equipe, reconhecer e
incentivar boas ideias e valorizar os profissionais são algumas das
obrigações que todo bom líder deve ter para conduzir com sucesso uma
empresa.
O LÍDER PRECISA TRANSMITIR CONFIANÇA
Uma espécie de porto seguro, onde os
liderados possam buscar apoio, afirmação, feedback e crescimento. O
líder não precisa ter todas as respostas, mas precisa saber estimular
seu time para que ele chegue à melhor resposta. Precisa saber mediar
conflitos, ter empatia, entender os dois lados e tomar a melhor decisão
para a empresa e a mais justa para os colaboradores.
Nos momentos críticos e situações de
crise, um líder não pode transparecer covardia e medo. Precisa ser
ponderado e ter atitude para não causar pânico. “É dever do líder buscar
alternativas em cenários adversos, mesmo que ele, inicialmente, não
enxergue solução para o problema”, diz Flávia. “Ele precisa estar
presente, chamar a responsabilidade para si”, acrescenta a especialista.
No caso da tragédia na Itália, foi o
comandante da Capitania dos Portos, Gregorio de Falco, que se
transformou em exemplo de liderança ao ordenar que Francesco Schettino
voltasse para o navio para comandar a operação de resgate dos
passageiros a bordo. A postura negativa de Schettino pode custar caro à
empresa operadora dos cruzeiros, que teve danos irreparáveis à sua
imagem institucional.
AS PESSOAS DEVEM SE SENTIR PROTAGONISTAS
Uma situação corriqueira no mundo
corporativo é a busca por posições hierarquicamente superiores por
simples questão de vaidade ou status. Quando a necessidade de conquistar
prestígio pessoal fala mais alto do que a vontade de ajudar a empresa e
as pessoas a crescerem, o risco se torna eminente. “O líder não é a
empresa”, afirma Mônica. “Ele é aquele que vai conduzir as pessoas para
que os resultados apareçam. Portanto, precisa saber entrar e sair de
cena, dividir os louros com a equipe e assumir as
críticas”, complementa.
DIVISÃO DE CONHECIMENTOS
Bons líderes não têm receio de
compartilhar o que sabem. E também são maduros e humildes o suficiente
para se disporem a aprender com seus subordinados. Afinal, eles é que
estão nas trincheiras do dia a dia, conhecem a realidade da empresa e o
melhor: estão loucos para serem ouvidos.
Se ter a confiança da equipe é um fator
primordial para o sucesso dos negócios, o contrário também se aplica.
Quem ocupa um cargo de liderança precisa contar com o apoio de uma
retaguarda. Traduzindo: não pode ser centralizador e precisa saber
direcionar tarefas e cobrar resultados. Da mesma forma, deve treinar
possíveis sucessores. “No final das contas, as pessoas passam e a
empresa sempre fica”, lembra Flávia.
A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO
Além da experiência do mercado na
bagagem, um líder tem de ser um bom articulador e comunicador. Às vezes,
essas características são até mais importantes do que o próprio
conhecimento técnico. Muitos profissionais que ascendem a um cargo de
liderança depois de se destacarem na área operacional encontram
dificuldades para se expressarem ou transmitirem aquilo que desejam.
Matéria publicada em 25/01/2012
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