quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Quais são as características de um bom líder e por que ele é fundamental na evolução e no crescimento de uma empresa

Por Pedro Machado
pedro@noticenter.com.br

O naufrágio do transatlântico Costa Concordia, há duas semanas na costa da Itália, tomou conta do noticiário internacional não apenas pela dimensão da tragédia em si – que matou, até agora, pelo menos 15 pessoas –, mas principalmente pela postura do comandante Francesco Schettino. Ao, literalmente, abandonar o barco, Schettino deu um belo exemplo de como um líder não deve agir. Como autoridade máxima do navio, cabia a ele comandar as operações de resgate das 4,2 mil pessoas a bordo. “Ao escolher se salvar em primeiro lugar, Schettino não só demonstrou despreparo para enfrentar uma situação adversa, um dos piores pecados de alguém que ocupa uma função de liderança, como fez pior: quebrou a confiança daqueles que estavam a bordo”, comenta Flávia Kurth, diretora-executiva da Véli Soluções em RH.
O caso reflete uma realidade que tem assustado o mundo corporativo, e que não é de hoje: bons líderes estão cada vez mais escassos. A pesquisa “Sonhos e pesadelos dos profissionais de RH”, realizada recentemente pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), mostra que quase 64% dos profissionais consultados acreditam que as empresas não têm líderes suficientes para suprir as necessidades dos próximos três anos. Um dado preocupante, que pode limitar o crescimento das organizações em um bom momento de expansão econômica do país.
Para Monica Schmaida, consultora da Véli, a postura de pessoas que ocupam cargos de liderança tem um impacto decisivo na evolução de uma empresa. São eles que definem a estrátegia que a empresa ou setor irá seguir para alcançar os resultados estabelecidos. Alguns líderes como Steve Jobs (Apple), Bill Gates (Microsoft), Silvio Santos (SBT) e Mark Zuckerberg (Facebook) são conhecidos pelas escolhas e atitudes demonstradas em momentos singulares. No entanto, a especialista lembra que líderes são pessoas admiradas e que inspiram os profissionais que trabalham para eles, independentemente de serem famosos ou não.
Em entrevista concedida ao Noticenter, Flávia e Monica explicam por que os líderes são agentes de sucesso (ou de naufrágio!) das empresas e apontam as principais características que profissionais em cargos de comando e chefia precisam ter para conduzir os negócios – e, acima de tudo, as pessoas.
ADMIRAÇÃO EM PRIMEIRO LUGAR
O líder precisa ser admirado pelos profissionais que comanda, e admiração é algo que se conquista. “Grandes líderes da história e dos negócios conseguiram fazer revoluções porque conquistaram a admiração do seu povo. Despertaram seus sonhos e a confiança de que eles seriam possíveis de realizar”, comenta Monica.
Para desenvolver esse carisma, não é necessário ocupar cargo de chefia, mas sim ter atitude. Essa admiração não deve estar relacionada apenas à sua superioridade hierárquica (é bom lembrar que nem todo líder é, necessariamente, um chefe), mas principalmente pelo relacionamento com seu público. “Hoje em dia, os profissionais se sentem mais seguros para questionar atitudes e decisões do líder”, avalia Flávia. “Quando o líder não é admirado por sua equipe, raramente os negócios vão fluir de maneira positiva”, completa. “É como os jogadores de um time de futebol que fazem corpo mole em campo para derrubar um treinador porque não o respeitam ou não acreditam em sua filosofia de trabalho”, compara Monica.
Dar voz para a equipe, reconhecer e incentivar boas ideias e valorizar os profissionais são algumas das obrigações que todo bom líder deve ter para conduzir com sucesso uma empresa.
O LÍDER PRECISA TRANSMITIR CONFIANÇA
Uma espécie de porto seguro, onde os liderados possam buscar apoio, afirmação, feedback e crescimento. O líder não precisa ter todas as respostas, mas precisa saber estimular seu time para que ele chegue à melhor resposta. Precisa saber mediar conflitos, ter empatia, entender os dois lados e tomar a melhor decisão para a empresa e a mais justa para os colaboradores. 
Nos momentos críticos e situações de crise, um líder não pode transparecer covardia e medo. Precisa ser ponderado e ter atitude para não causar pânico. “É dever do líder buscar alternativas em cenários adversos, mesmo que ele, inicialmente, não enxergue solução para o problema”, diz Flávia. “Ele precisa estar presente, chamar a responsabilidade para si”, acrescenta a especialista.
No caso da tragédia na Itália, foi o comandante da Capitania dos Portos, Gregorio de Falco, que se transformou em exemplo de liderança ao ordenar que Francesco Schettino voltasse para o navio para comandar a operação de resgate dos passageiros a bordo. A postura negativa de Schettino pode custar caro à empresa operadora dos cruzeiros, que teve danos irreparáveis à sua imagem institucional.
AS PESSOAS DEVEM SE SENTIR PROTAGONISTAS
Uma situação corriqueira no mundo corporativo é a busca por posições hierarquicamente superiores por simples questão de vaidade ou status. Quando a necessidade de conquistar prestígio pessoal fala mais alto do que a vontade de ajudar a empresa e as pessoas a crescerem, o risco se torna eminente. “O líder não é a empresa”, afirma Mônica. “Ele é aquele que vai conduzir as pessoas para que os resultados apareçam. Portanto, precisa saber entrar e sair de cena, dividir os louros com a equipe e assumir as críticas”, complementa.
DIVISÃO DE CONHECIMENTOS
Bons líderes não têm receio de compartilhar o que sabem. E também são maduros e humildes o suficiente para se disporem a aprender com seus subordinados. Afinal, eles é que estão nas trincheiras do dia a dia, conhecem a realidade da empresa e o melhor: estão loucos para serem ouvidos.
Se ter a confiança da equipe é um fator primordial para o sucesso dos negócios, o contrário também se aplica. Quem ocupa um cargo de liderança precisa contar com o apoio de uma retaguarda. Traduzindo: não pode ser centralizador e precisa saber direcionar tarefas e cobrar resultados. Da mesma forma, deve treinar possíveis sucessores. “No final das contas, as pessoas passam e a empresa sempre fica”, lembra Flávia.
A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO
Além da experiência do mercado na bagagem, um líder tem de ser um bom articulador e comunicador. Às vezes, essas características são até mais importantes do que o próprio conhecimento técnico. Muitos profissionais que ascendem a um cargo de liderança depois de se destacarem na área operacional encontram dificuldades para se expressarem ou transmitirem aquilo que desejam.
Matéria publicada em 25/01/2012

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