Especialistas explicam quatro comportamentos desencorajados no trabalho e como se livrar desses hábitos
Pense no perfil de um excelente profissional.
Provavelmente, ele não é preguiçoso ou sem foco, sem certo? Tampouco
excessivamente competitivo ou ansioso. Mesmo porque essas
características psicológicas podem gerar problemas físicos, só pensar
naquele seu colega de trabalho que tem gastrite ou pressão alta – as
chances são grandes de a causa ser psicossomática.
Algumas características e hábitos não só são mal vistos no ambiente profissional como podem, sim, gerar problemas maiores de saúde para o funcionário. Entenda quatro sintomas, suas causas e como lidar com eles.
Sono e Preguiça
O corpo tem um relógio biológico que funciona muito com base na
iluminação do dia e no escuro da noite. “De dia, liberamos o hormônio
cortisol, que nos prepara para o enfrentamento da rotina. À noite, o
hormônio melatonina começa a agir para indução do sono”, explica o
médico Artur Zular, consultor científico do Instituto Qualidade de Vida.
Na prática, alterações nesse relógio biológico – como acordar antes
do sol nascer ou insistir em se manter acordado até altas horas da
noite, podem afetar o funcionamento desses hormônios, deixando a pessoa
com sono durante o horário comercial. Pessoas que trabalham à noite,
fazem plantões ou trabalham em turnos sofrem mais com isso.
Também é importante levar em consideração outros transtornos que
podem estar causando sono em horários indevidos. “A pessoa pode estar
com depressão não diagnosticada, por exemplo. Ela também pode ter
transtornos como anemia e hipotireoidismo, que dão fraqueza e cansaço”,
diz o Duílio Antero de Camargo, psiquiatra do Hospital das Clínicas de
São Paulo e médico da Associação Nacional de Medicina do Trabalho
(ANMT).
Como lidar
Segundo Camargo, é importante passar por uma avaliação médica para
determinar se o trabalhador “preguiçoso” não tem, na verdade, algum
transtorno físico. “Se o problema for o trabalho em turnos ou à noite, o
jeito é passar por uma readaptação, talvez mudar seu horário”, fala.
Para quem precisa lidar com o sono e não encontrou a causa da
preguiça na medicina, Zular é bem direto na dica: “café”. Ele explica
que cafeína é um excelente estimulante. Por dia, pode-se tomar 4 a 5
xícaras pequenas da bebida. “Quem não gosta de café pode tomar
refrigerante de cola, que equivale a duas xícaras. Chocolate também
funciona. Mas é preciso tomar cuidado com essa mistura para não
ultrapassar a dose diária recomendada”, alerta.
Além de tirar a sonolência, o café estimula a cognição e memória.
Para quem não tem diabetes, até o açúcar pode ser benéfico, por evitar
glicemia.
Impaciência e ansiedade
Apesar de muitas vezes serem usadas como sinônimos, as palavras têm
significados diferentes. “A impaciência tem relação com a urgência do
tempo”, explica Zular, “Já a ansiedade se relaciona com o sofrer por
antecipação”.
A impaciência tem um componente bastante cultural, da criança que não aprende que precisa esperar. Já a ansiedade pode produzir uma dificuldade em se lidar com o tempo, gerar estresse, angústia e até sintomas físicos como pressão arterial elevada.
A impaciência tem um componente bastante cultural, da criança que não aprende que precisa esperar. Já a ansiedade pode produzir uma dificuldade em se lidar com o tempo, gerar estresse, angústia e até sintomas físicos como pressão arterial elevada.
A ansiedade é normal e as pessoas costumam ter alguns sintomas mais
leves relacionados à tensão. O problema é quando eles se intensificam
(sudorese, tremores, falta de ar e taquicardia) e acabam se tornando
crônicos. “Ansiedade crônica deixa marcas físicas, o corpo não aguenta
tamanho esgotamento”, afirma Camargo.
Como lidar
Na hora da tensão, alguns alimentos e bebidas (como o chocolate e o
suco de maracujá, por exemplo), podem ajudar a lidar com um ataque de
ansiedade. Se a questão é crônica, porém, e começa a afetar o seu dia a
dia, é preciso passar por uma avaliação médica.
Os dois especialistas reiteram a importância de acompanhamento
psicológico para se trabalhar as causas da ansiedade. “O médico vai
desconstruir o modelo mental desse paciente ansioso”, conta Zular. E ele
completa: “Essa pessoa muito ansiosa está vivendo em outra realidade,
uma na qual os efeitos e sintomas são desproporcionais às causas”.
Para o médico Camargo, que faz parte da Associação Nacional de
Medicina do Trabalho, é importante notar que as causas dessa tensão
podem vir do próprio emprego: sobrecarga de trabalho, excesso de meta,
relacionamentos complicados. “Às vezes, é preciso tratar a pessoa, e
para isso temos tranquilizantes e antidepressivos, mas às vezes também
precisamos tratar a empresa”, diz.
Excesso de competitividade
Os novos modelos de gestão exigem, sim, um profissional mais
agressivo e competitivo. Esse é um comportamento incentivado. “Mas o que
importa mais: competência ou competitividade?”, questiona Artur Zular.
Claro que competência é mais importante e ser melhor que o outro pode
ser desgastante, especialmente se a competição torna o clima da empresa
menos colaborativo. “A pessoa competente compete consigo mesma, tem
autocrítica”, diz Zular.
Ambos especialistas concordam que a característica da competitividade
é um fenômeno psicossocial, ou seja, cultural. “Não tem nada a ver, por
exemplo, com testosterona. Testosterona implica em agressividade, não
competição”, desmistifica Zular.
Como lidar
Para Zular, é difícil mudar a personalidade de alguém muito
competitivo: “Essa pessoa terá de ser treinada. Ela primeiro precisa se
perceber como extremamente competitiva, depois adequar seus processos
mentais e por fim mudar seus atos, não necessariamente sua essência”,
afirma.
O psiquiatra Camargo também concorda com a importância da terapia em
casos de competição extrema, para que a pessoa tenha consciência dos
limites. “É preciso trabalhar a empresa, também, que tem
responsabilidade pelo clima de extrema competição que promove”,
completa.
O especialista dá algumas dicas, também, que podem ajudar a amenizar a
necessidade de competir e brigar no ambiente de trabalho: “Busque
válvulas de escape e recarregue suas baterias. Vale atividade física,
espiritualidade, buscar apoio familiar e social e até agrados na
alimentação”, sugere. Isso evita que, com tanto estresse, a pessoa
exploda (cause brigas e seja agressiva) ou imploda (desenvolva doenças
crônicas psicossomáticas).
Falta de foco
Já aconteceu de você não estar com sono, não estar cansado, mas
também não conseguir manter sua atenção no trabalho a ser feito?
Qualquer coisa parece mais interessante do que a tela do seu computador
nesses momentos. Em alguns dias isso é normal, sim. O problema é quando a
falta de foco se torna algo constante no trabalho.
“Falta de foco é poluição mental”, explica o médico Artur Zular. “Ela
é gerada por fragmentos de outros dias e lugares que ficam na sua
cabeça. Você lê um texto, mas com ele concorrem outros assuntos com os
quais você precisa lidar”, explica.
Essa desatenção também pode ser sintoma de doenças mais graves como
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade ou depressão.
“Esquecimento e apatia são sintomas comuns da depressão”, descreve
Camargo.
Como lidar
Assim como com outros sintomas, a falta de foco pode ser indicativa
de doenças mais graves. Por isso, é essencial que se passe por uma
avaliação médica.
Se, por outro lado, você não consegue se concentrar por conta de
algum problema pessoal, a solução é “se despoluir”. “Se for algo que
você puder resolver, peça licença para o chefe e lide com o problema.
Caso contrário, tente usar o trabalho como distração do problema – em
vez de ser o oposto”, diz Zular.
A falta de foco pode ser sinal de que falta, na realidade, estímulo
para se trabalhar. Segundo Camargo, um desgaste no trabalho pode ser
resolvido com alterações: novos projetos, funções e tarefas que
estimulem o funcionário.
“Há meios artificiais, também, para concentração: café e às vezes é
necessário medicação”, diz Camargo. Ele, assim como Zular, sugere que a
pessoa treine seu comportamento para saber priorizar tarefas. “Se está
difícil de prestar atenção no trabalho, tire os ladrões de tempo e as
distrações da sua frente”, completa Zular.
Fonte: Exame.com
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